Desmatamento e mudança global do clima, tudo a ver

A relação entre desflorestamento e mudança climática é direta, como mostram os artigos aqui hiperlinkados: as emissões do desmatamento tropical representam cerca de 11% das emissões anuais de dióxido de carbono; enquanto as florestas que permanecem intactas atualmente absorvem até 30% de todas as emissões de CO2.

Estancar o desmatamento, restaurar florestas e melhorar as práticas florestais poderiam remover 7 bilhões de toneladas de carbono anualmente – o equivalente a eliminar as emissões de 1,5 bilhão de carros, mais do que todos os automóveis que rodam no mundo hoje.

Foto: Rodrigo Soldon/ Flickr Creative Commons
Foto: Rodrigo Soldon/ Flickr Creative Commons

No Brasil, quem é o “dono” do carbono?

Conforme publicado pela Agência Fapesp, o Estado é o principal “dono”: do total de 52 gigatoneladas (Gt) que compõem o estoque de carbono armazenado em vegetação nativa no Brasil, 67% estão em terras públicas, das quais metade em Unidades de Conservação e em terras indígenas. Mas isso não significa que essas reservas estejam protegidas, sem o risco de se converterem em gases de efeito estufa (GEE). “Aproximadamente 20% dessas reservas (10 Gt) estão desprotegidas em 80 milhões de hectares de terras públicas sem titulação ou destinação clara, onde a disputa pela propriedade e o desmatamento ilegal desafiam a preservação da vegetação nativa e podem levar ao aumento das emissões brasileiras de GEE.”

As constatações são de estudo da Escola de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), realizado em colaboração com o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), e as instituições suecas KTH Royal Institute of Technology e Chalmers University of Technology. A pesquisa integra o projeto Atlas da Agropecuária Brasileira, realizado pelo Imaflora em parceria com o Geolab da Esalq-USP, com apoio da Fapesp. Os resultados foram publicados na revista Global Change Biology.

Foto: Universo Produção/ Flickr Creative Commons
Foto: Universo Produção/ Flickr Creative Commons

 O desmatamento gera ainda mais efeitos negativos…

A destruição da vegetação natural afeta mais que o clima. Recente estudo de Paulo Ilha, pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), mostra que o desmatamento está fazendo peixes diminuírem de tamanho em uma região no nordeste de Mato Grosso. O aquecimento dos riachos provocado pela derrubada da mata e pela construção de barragens afetou a qualidade do hábitat, levando à diminuição média de 36% do tamanho de algumas espécies. Isso porque a retirada da cobertura vegetal, seja para pastagem, seja para plantação de soja, facilita a erosão e o transporte de sedimentos para os rios, modifica características físico-químicas da água, e a disponibilidade de alimento e abrigo para os animais aquáticos.

 … com um ganho irrisório e fugaz

O desmatamento agrega ao PIB apenas 0,0013% ao ano, segundo estudo de oito ONGs ambientalistas (Greenpeace, ICV, Imaflora, Imazon, Ipam, ISA, TNC e WWF). A área média derrubada por ano entre 2007 e 2016 (7.502 km²) teve o potencial de acrescentar anualmente cerca de R$ 453 milhões em valor bruto de produção agropecuária. Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, o baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos municípios amazônicos mostra que a população é vítima da lógica do “boom-colapso”. Ou seja, a exploração promove uma explosão momentânea de riqueza na economia local, mas concentrada em poucas mãos e que se esgota rapidamente.

“O resultado final são cidades inchadas, com infraestrutura deficiente, sem empregos de qualidade e com concentração de renda”, diz o estudo. Além do pouco retorno econômico, o desmatamento contribui para o aquecimento global: as mudanças no uso da terra foram responsáveis por 51% das emissões do Brasil no ano passado.

Cerrado 2 x 1 Indústria

As mudanças no uso da terra não se limitam à Amazônia. Este relatório do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (Seeg), do Observatório do Clima, destaca que o desmatamento no Cerrado foi responsável por mais que o dobro do que o País emitiu por processos industriais. Foram lançadas 248 milhões de toneladas brutas de gases de efeito estufa em 2016, equivalente a 11% de todo o carbono emitido pelo Brasil no ano.

Queimada na Chapada dos Veadeiros. Foto: Raiz de Dois/Flickr Creative Commons
Queimada na Chapada dos Veadeiros. Foto: Raiz de Dois/Flickr Creative Commons

Falsa dicotomia

Este comercial da GM causou má repercussão ao apresentar, com um tom de ressentimento e até agressividade, uma falsa dicotomia entre conservação e produção agrícola. Para vender caminhonete isso não é preciso.

A mãozinha do blockchain

Ouça neste podcast (em inglês) como o blockchain contribui para combater o desmatamento, ajudando a implementar políticas e a desenvolver cadeias de suprimento mais sustentáveis. O áudio explica também como a tecnologia pode desenvolver o mercado de créditos de carbono.

Além disso, este vídeo produzido pela revista The Economist propõe o uso do blockchain para ajudar a salvar a Amazônia, protegendo a biodiversidade e combatendo a pirataria. Os países da Bacia Amazônica depositariam no sistema de blockchain o sequenciamento do DNA e de outras moléculas especiais obtidas de espécies vegetais e animais. Quem usar a informação paga royalties para o país que a depositou. Os royalties funcionariam, portanto, como incentivo para que os países amazônicos combatam o desmatamento e conservem a biodiversidade.

Mapa do desmatamento

Os pontos vermelhos neste mapa do Ipam mostram áreas desmatadas até 2016 na Amazônia. É possível observar como os Terras Indígenas e as Unidades de Conservação contribuem para evitar o avanço da destruição, que se alastra nas demais áreas, inclusive nas de assentamento rural.

Mapa dos serviços ecossistêmicos

este mapa da Forest Trends indica onde há incentivos econômicos para manter serviços ecossistêmicos ligados a água, biodiversidade, carbono e múltiplos, como sistemas de eficiência energética e coleta de recicláveis. Desde 2004, a organização monitora os arranjos de pagamento e compensação por serviços ambientais, por meio da iniciativa Matriz Global de Serviços Ecossistêmicos. A matriz permite visualizar e acompanhar as tendências globais e regionais dos mercados de serviços ambientais.

Mapas interativos

Esta ferramenta dinâmica do Fórum Econômico Mundial busca aproveitar a inteligência coletiva gerada no Fórum para compreender as forças que têm impulsionado transformações nos mais diversos setores da economia e em temas globais. Explore as sinapses, por exemplo, que envolvem agricultura, alimentos e bebidas.

Produção orgânica

Esta reportagem da revista The Conversation traz o provocativo título: “A agricultura orgânica está virando mainstream, mas não do jeito que você imaginava”. A chamada big organics, ou agricultura orgânica praticada em larga escala, é muitas vezes ridicularizada por ambientalistas. Autores americanos sobre alimentos, como Michael Pollan e Julie Guthman, argumentam que a agricultura orgânica perde o compromisso de construir um sistema alternativo, na medida em que se expande e se torna mainstream, replicando o que pretendia combater.

Mas a matéria faz um contraponto, mostrando novas pesquisas, segundo as quais a relação entre agricultura orgânica e convencional é mais complexa. O fluxo de influência está começando a se inverter: os praticantes da agricultura convencional começam a pegar emprestadas técnicas “orgânicas” para reduzir o uso de pesticidas, fertilizantes artificiais e interferência excessiva na terra, com a finalidade de aumentar a biodiversidade na fazenda, a população de insetos que contribuem no controle biológico e a conservação do solo.

Clássicos sobre alimentos

E, por falar em Michael Pollan, o livro O Dilema do Onívoro – Uma história natural de quatro refeições, lançado no Brasil em 2009, provoca o leitor a refletir sobre as implicações éticas, socioeconômicas, políticas e ambientais relacionadas ao ato de produzir e consumir um alimento. Outro clássico é Diet for a Small Planet (1971), de Frances Moore Lappé, um marco da contracultura aplicada aos alimentos e o primeiro a relatar os impactos socioambientais da produção convencional de alimentos.

Pecuária na berlinda

O documentário Sob a Pata do Boi – Como a Amazônia vira pasto é resultado de dois anos de investigação sobre o impacto da pecuária no desmatamento da Amazônia. Dirigido por Marcio Isensee e Sá, o filme é uma produção do site ((o))eco, de jornalismo ambiental, e do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

Este outro vídeo, divulgado no Facebook,  mostra como o consumo de carne prejudica os oceanos:

Por essas e por outras razões – como questões de saúde e por não aceitar o modo como os animais são criados e abatidos ­–, uma parcela crescente da população está evitando o consumo de carne. Este artigo de Eduardo Assad endereça ao menos a questão das emissões, ao afirmar que é possível produzir carne no Brasil sem desmatamento e com baixo carbono. Mais sobre a pegada de carbono da carne aqui.

Existe dieta mais sustentável que outras?

O WWF na França entende que sim. No infográfico abaixo, considerando o consumo de uma família de quatro pessoas durante uma semana, a organização compara a alimentação convencional com uma dieta diferenciada, composta por mais legumes, frutas, leguminosas e cereais integrais, e menos alimentos processados, bebidas açucaradas, carne e peixes selvagens. O resultado é maior qualidade nutricional da dieta diferenciada (nota A contra conta C), com menor emissão de carbono (68 quilos de carbono equivalente contra 109 quilos) e pelo mesmo preço: 189 euros.

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