Por Amália Safatle

Em poucas palavras, serviços ecossistêmicos são as contribuições diretas e indiretas dos ecossistemas ao bem-estar humano. Essa é a definição dada por uma das principais iniciativas globais no tema, a The Economics of Ecosystems and Biodiversity, Teeb.

A literatura classificou esses serviços em diferentes tipos, com a finalidade de mapear mais facilmente as formas pelas quais os serviços influenciam nosso bem-estar e nossas atividades produtivas. A classificação também auxilia o poder público e a iniciativa privada a tomarem decisões que aproveitem oportunidades geradas pelos serviços e reduzam riscos de suas atividades.

Os serviços podem ser de provisão (por exemplo: de alimentos, água, madeira, biomassa combustível), de regulação (equilíbrio climático, controle de cheias, controle de doenças), culturais (importância cênica, recreativa, turística, espiritual, educacional) e de suporte, ou habitat (ciclagem de nutrientes, formação de solo).

Este gráfico mostra como pode dar-se a relação entre os diversos tipos de serviços e os componentes de bem-estar humano:

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FONTE: Unep-FI ‒ Acesse o documento completo aqui

Valor versus preço

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FOTO STEVEN DEPOLO

Atribuir um valor a determinado serviço ecossistêmico é uma forma de dimensionar sua importância e traduzi-la para o ambiente econômico, facilitando, assim, a tomada de decisão. Isso não quer dizer que todos os serviços devam ser monetizados – os culturais, por exemplo, podem ser valorados apenas qualitativamente, de modo a preservar seu caráter intangível (saiba mais sobre os serviços culturais aqui).

Mas primeiramente é preciso entender a diferença entre os conceitos de “valor” e “preço”. Um exemplo muito usado para expor essa diferenciação é comparar o diamante com a água. O diamante possui um preço alto, embora não dependamos dele para viver. Já sem água ninguém vive e, embora valiosa, seu preço muitas vezes é igual a zero.

Enquanto o valor reflete a importância de algo, o preço é uma variável de mercado que indica a relação entre oferta e demanda. O preço refere-se a algo que sempre possui uma utilidade e é substituível. Já o valor refere-se a algo que não necessariamente tem substituição ou utilidade.

O valor ecológico, por exemplo, avalia de forma não monetária a integridade, a saúde ou a resiliência de um ecossistema. O valor também pode ser intrínseco, ou seja, independe de utilidade. E pode ser sociocultural, aferido por um determinado grupo social, o que embute uma carga de subjetividade: uma árvore pode ser considerada sagrada para um grupo, mas não para outro.

Já o valor econômico está relacionado à utilidade e ao bem-estar, e é neste campo que operam metodologias como a Devese ‒ Diretrizes Empresariais para a Valoração Econômica de Serviços Ecossistêmicos ‒, desenvolvida no FGVces.

Essas diretrizes propõem-se a orientar a elaboração de análises simplificadas de valoração econômica de serviços ecossistêmicos que sirvam de subsídio para tomadas de decisões empresariais estratégicas. Abarcam a provisão de água, a regulação da qualidade da água, a assimilação de efluentes líquidos, a regulação do clima global, a provisão de biomassa combustível, a polinização, a regulação da erosão do solo, e a recreação e o turismo.

Por meio desta ferramenta de cálculo, a empresa é capaz de entender a dimensão dos valores econômicos envolvidos na sua exposição ‒ em termos monetários ‒ ao risco de não poder mais contar com os benefícios que esses serviços proporcionam. Esse cálculo leva em conta as relações de dependência, de impacto e de externalidade.

Uma empresa depende de um serviço ecossistêmico quando necessita dele para alcançar um objetivo. Por exemplo, uma fabricante de bebidas que depende da oferta de água de boa qualidade. Se essa água provida diretamente pelo serviço ecossistêmico faltar, a empresa incorrerá em gastos ao precisar comprar água de outras fontes, o que inclui custos de transporte e logística.

Encontrando-se em uma região afetada pela crise hídrica, essa empresa sofre impacto direto na produção. O impacto são as consequências de uma ação ou evento sentidas pelo próprio agente econômico.

E, se tal empresa provocar uma contaminação da água da região ao lançar no ambiente efluentes líquidos sem tratamento adequado, afetará o bem-estar de terceiros de toda a localidade. Isso configura, portanto, uma relação de externalidade (esta publicação orienta as empresas a como relatar externalidades ambientais).

Na Devese buscou-se o equilibrio entre métodos robustos o suficiente para a tomada de decisão, mas de aplicação fácil, rápida e de baixo custo. Com isso, pode dispensar, de forma completa ou parcial, a necessidade de apoio de consultorias externas especializadas no tema e promover o envolvimento direto de seu usuário no processo de valoração econômica. Saiba mais sobre métodos usados aqui e assistindo a esta videoaula.