Roteiro e montagem: Magali Cabral

Locução: Bruno Toledo

Há 3,8 bilhões de anos, a natureza evolui para desenvolver e harmonizar todas as formas de vida que existem na Terra.

Nós, humanos, somos uma espécie relativamente recente dentro deste pequeno, sensível e belo planeta azul.

Segundo Yuval Noah Harari, autor de Sapiens, Uma breve história da humanidade, se fosse possível dar um passeio pela África Oriental de 2 milhões de anos atrás, distinguiríamos figuras humanas reunidas em grupos familiares totalmente adaptadas à natureza, tal qual os chipanzés, os elefantes e os babuínos.

Mas isso ainda era Pré-História.

Somente há 70 mil anos, o Homo sapiens estruturou-se em culturas mais elaboradas e começou a escrever a História propriamente.

Durante esses 70 milênios, seres humanos e natureza conviveram lado a lado sem grandes abalos ambientais. Quer dizer, a degradação da natureza sempre aconteceu ao longo da História contemporânea, mas em doses que permitiam em muitos casos a reposição natural dos recursos extraídos.

Mas, nos últimos 60 anos, passamos a alterar o ambiente natural como nunca antes na História do planeta.

Conseguimos pôr em risco a nossa própria existência.

Com o tempo, percebemos, enfim, que estávamos fechando os olhos para os bilhões de anos de experiências acumuladas da natureza.

E, na última década, começaram a surgir os primeiros projetos que promovem intervenções humanas inspiradas em ecossistemas saudáveis para enfrentar desafios urgentes.

São as chamadas Soluções baseadas na Natureza (SbN), para lidar com problemas como: o avanço do nível do mar; a escassez hídrica, que se sobrepõe onde antes havia abundância de água; as enchentes; o desaparecimento da biodiversidade em terra, mar etc.

Desde que surgimos por aqui, dependemos dos recursos que retiramos da natureza. E vamos continuar dependendo.

Assim, ao se inspirar e proteger o meio ambiente, a SbN está protegendo, por tabela, a economia local e o bem-estar das pessoas.

Na prática funciona assim: imagine um ambiente marinho explorado até as últimas consequências pela indústria pesqueira. O desaparecimento da biodiversidade, no caso, afetará a qualidade de vida dos pescadores artesanais locais.

Uma Solução baseada na Natureza que consiga restabelecer esse ecossistema marinho – construindo recifes artificiais, por exemplo – estará beneficiando aquela região em suas dimensões ambiental, social e econômica.

A União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), organização que cunhou a expressão, estabeleceu sete princípios básicos de uma SbN:

‒ Entregar uma solução efetiva para um desafio global utilizando a natureza;

‒ Fornecer benefícios da biodiversidade em termos de diversidade e ecossistemas bem manejados;

‒ Apresentar a melhor relação custo-efetividade quando comparada com outras soluções;

‒ Ser comunicada de maneira simples e convincente;

‒ Poder ser medida, verificada e replicada;

‒ Respeitar e reforçar os direitos das comunidades sobre os recursos naturais;

‒ Atrelar fontes de financiamento público e privadas;

Aqui no Brasil, a Fundação Grupo Boticário, membro da IUCN, tem adotado ações para divulgar esses conceitos e práticas.

Esta edição de P22_ON apresenta o resultado da primeira chamada de casos de SbN feita no País, por iniciativa da Fundação.

O objetivo é identificar e dar reconhecimento aos projetos que demonstram como a natureza pode ser parte da solução para diversas demandas da sociedade.

Nas reportagens e depoimentos produzidos, você poderá aprofundar seus conhecimentos sobre o conceito das SbN e conhecer em detalhes os 15 casos selecionados na chamada – eles estão organizados em tipos de solução para demandas da sociedade: oferta de recursos hídricos, gestão municipal, cadeias produtivas, qualidade da água e ambientes marinhos.

Boa leitura!